É Dela - A não Despedida


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Ela venho com seu vestido floreado, sem mangas, de uma fita amarela de cetim envolvendo sua cintura, finalizada em um grande e bem arrumado laço em suas costas, e sentou-se ao chão, ao redor da minha cadeira de balanço. Com as pernas cruzadas e olhos brilhantes, pediu para que contasse mais uma de minhas histórias da juventude. Paulinha, é assim como eu chamo minha neta de quatorze anos. Seu nome mesmo, é Ana Paula.


Naquele dia em particular, ela lembrava muito a mim mesma, em um dia marcante de minha vida. Foi por isso que decidi contar a ela essa história:


"Cabelos de um tom castanho claro, liso e que iam até a metade de minhas costas, na lateral direita uma mecha era presa por um passador de metal e madeira. Os olhos piscavam seguidamente, tentando enxergar por detrás das lágrimas que brotavam sem freio. A mão delicada e pequena, de uma adolescente de dezessete anos, tirava a franja da frente dos olhos, dando mais espaço para que seus olhos vissem o que não queria crer que estavam vendo: O ônibus com destino a Rio Grande, saindo... e com ele dentro.

Sentei-me no banco da Rodoviária.

Com a cabeça baixa, olhava para a minha sandália de tiras de couro. Os pés balançavam para frente e para trás, com todo o meu jeito infantil que ainda restava, depois de uma vida precocemente amadurecida. Minhas mãos estavam inquietas, sem saber o que fazer. Na verdade, elas sabiam o que fazer: segurar ele por mais um tempo, um pouco que fosse, agarra-lo pela gola da camiseta. Dessa forma eu nem precisaria falar, ele entenderia o que estava tentando dizer. Mas já não era possível fazer isso, meus dedos contentavam-se em brincar com os desenhos das flores da estampa de meu vestido, que ia até a metade das coxas. Flores de diversos tamanhos e cores, sobrepostas a um fundo branco. Eu era aquilo naquele momento: Um branco, um vazio, com algumas coisas de diversos tamanhos e cores me sobrepondo e tentando preencher-me. Sentimentos, pensamentos, planos.

Apesar da distração e inquietação demonstrada pelas mãos e pés, de meus olhos ainda escorriam lágrimas de uma maneira calma e mansa. Sim, eu estava calma. Meus pensamentos borbulhavam, meu coração estava acelerado e eu queria agir. Correr, segurar, pedir e implorar, mas já não era mais possível faze-lo.

Eu estava letárgica. Tentava encaixar as peças das lembranças dele, dizendo-me que eu era única, o amor que ele sempre procurou, naquele momento de dor e partida em que me deparava ali. Simplesmente, não havia encaixe algum naquilo tudo. Simplesmente, não era assim que deveria acontecer.

Depois que minhas lágrimas já haviam lavado meu rosto, e somente meu rosto, pois minha alma continuava suja com o amor dele e meu coração permanecia amarrotado e pequeno de angústia e sofrimento. Depois de meus pés terem pousado abruptamente no piso frio de cimento avermelhado daquela Rodoviária. Depois de minhas mãos apertarem dentro de si os dedos brincalhões de outrora. Ergui meu tronco e fui embora também, deixando para trás aquele santuário de dor, aquele terminal de ônibus, que bem que poderia ser, "terminal" de amor.

No banco onde estava sentada, esqueci-me da carta que havia levado comigo, que pretendia entregar a ele. Alguém haveria de encontra-la e leria as minhas linhas e entenderia a dor de uma não Despedida."

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E algo mudou.

Não há mais choro
Não há mais desespero
Não há mais "fim do mundo".

Mas o que mudou?

Eu mudei?
Eu que estou mais dura, acostumada, mais experiente?

Ele mudou?
Ele é concreto, real, o certo?

Não sei.

De qualquer forma
Ainda há uma coisa.

Medo.

Medo de me tornar dura na queda.
Medo de perder o que pode ser certo.

Mas pras duas coisas
Só há uma resposta:
Esperar.

O Tempo irá dizer, o que mudou.